terça-feira, 9 de junho de 2015

Os dias estão contados...

         Desde que nasci, frequentava o campo de baseball, seja para brincar, seja porque a única pessoa que poderia cuidar de mim era minha avó (que precisava ajudar lá no campo), ou seja porque eu gostava e queria estar presente, naquele lugar maravilhoso. Meu contato com o bastão, a bola de borracha, a luva, a terra, a grama, foi muito cedo, eu era um cotoco que mal sabia andar, mas segurava o bastão, procurando acertar a bola.

         Naquela época (se não me engano), eu não era a única criança, mas quase não havia ninguém. Cerca de um ano depois (que comecei a frequentar o campo de baseball), um garotinho nasceu, o garotinho era filho do técnico do meu tio, e sua mãe era técnica do time feminino (softball), ou melhor, minha primeira técnica.
         As primas deste garoto eram crianças que frequentavam o campo também, e foi com elas e mais algumas meninas que comecei a jogar softball.
         Nós treinávamos todos os domingos, e eu, com meus 4 anos, comecei a jogar aquele jogo (razoavelmente) confuso e cheio de jogadas. Eu morria de medo da bola, principalmente quando qualquer menina jogava para mim, já que elas eram mais fortes. Até que um dia, “tomei coragem” e consegui pegar a bola, a bola da menina mais forte e mais velha (que pra mim era um máximo)!
         Naquele dia, senti que eu era realmente capaz, capaz de jogar até com aquelas meninas, mesmo sendo a mais nova com 4 anos. Mas como diz o ditado “Tudo que é bom dura pouco”, sim, como todas as meninas eram mais velhas, elas saíram por falta de categoria, e restou apenas eu, a menina que acabara de conseguir pegar uma bola, a menina que se encantou facilmente por este esporte... Mas e o que aconteceu com essa menina? Ela simplesmente cresceu, e começou a jogar com os meninos, inclusive com o garotinho, aquele que era filho da minha técnica.

         Muito tempo se passou, e todos esses anos eu estava com eles, compartilhando sorrisos e lágrimas. Jogava com os mesmos meninos, nenhum deles saía, mas quase ninguém entrava também. Jogando com eles, eu tentava mostrar que eu conseguia e podia jogar contra qualquer menino, sejam eles mais fracos ou mais fortes do que eu, mas eu “precisava”.
         Era cansativo não ter um final de semana para aproveitar, e ter que ficar treinando, mas isso me deixava feliz, a companhia deles era ótima, apesar de que... Esqueci de contar um detalhe.
         Eu era a única menina no time, além de ser única, era amais velha, ou seja, meus dias estavam contados, já que quando chegasse 2014 não poderia jogar mais com eles, por motivos de idade, e da bola, sim, a bola, porque a partir dos 13 anos a bola seria de couro.
         A partir do dia que fiquei sabendo disso (que não poderia mais jogar com eles), tinha medo do tempo, do tempo passar muito rápido, além de ter medo, treinava, jogava, me divertia cada vez mais, o medo de não se divertir novamente era forte. Pelo menos, o que aprendi, o que senti o que aconteceu, em todos esses anos, eu não me arrependo.

         Dezembro. 2014. Meu último jogo me espera. E a hora chegou.
         Nos momentos em que jogava, para mim, não importava se iriamos ganhar ou perder, estar lá, tentando dar o meu máximo para ajudar o time, essa sensação não podia ser mudada, e nem foi. O campeonato acabou, sentamos na grama e os técnicos agradeceram a minha “ajuda”, e eu, tentando não chorar.
         Cheguei em casa. Eu, já não fazia mais parte daquele time...
         Todos esses anos, nunca disse a eles o quão importantes eles foram para mim, e acho que nunca vou conseguir... Mas, se algum dia, algum deles ler isto, quero que saibam o quão divertido foi jogar com eles, e o quão feliz eu estava em todos esses anos, estando no mesmo time que eles, apesar de nunca ganhar uma final na chave ouro, mas eu quero que saibam também, que fiquei muito emocionada  vê-los sendo vice-campeões na chave ouro em 2013, mesmo não estando no campo para ajudar.
         Não sei se fui importante para eles, mas eles, pra mim, foram muito importantes. Importantes como uma família, me acolhendo do jeito deles.
         A única menina, a mais velha, e os dias contados para sua saída, ela não sofreu, de jeito nenhum, ela simplesmente guardou sentimentos, memórias e familiares de sangue distinto que nunca poderão ser substituídos..!



segunda-feira, 8 de junho de 2015

Será que é uma vida mais difícil?

      (Numa segunda feira qualquer, um homem está dirigindo seu carro na Avenida Paulista, porém, está transito  e há um carro devagar em sua frente. O homem começa a se irritar com a lentidão do carro à frente, mas ele consegue ultrapassar, buzina e diz):
         “Tinha que ser mulher! Se não sabe dirigir não vai pra rua!”
         (Pensamento de uma mulher que esta observando esta cena pela janela no ônibus) Ainda bem que era mulher! Essa moça que estava a sua frente estava andando devagar para não ultrapassar o limite de velocidade, diferente de certas pessoas que correm um absurdo causando acidentes. A maioria dos homens nunca percebeu, mas... Normalmente, nos noticiários, quando falam de algum acidente, este acidente normalmente não é causado por uma mulher, e sim por algum homem em alta velocidade. E depois, se você parar para pensar, os motoristas que andam devagar, estão se preocupando com o bem estar das outras pessoas.
         Fico imaginando, o que este homem (que disse que se a mulher não sabe dirigir não  é pra ir pra rua) fizesse se ele entrasse num ônibus em que o motorista é mulher. Será que ele não entraria no ônibus? Ou então, entraria mas ficaria receoso?

         (O homem chega em seu trabalho. Quer tomar café, mas está cheio de trabalho a fazer, por isso pede a um outro homem que esta perto da cafeteira, porém o homem diz):
         “Por que você não pede pra Ela? Eu não sei fazer café, isso é coisa que mulher sabe fazer. Então pede pra alguma mulher ai.
         Uma mulher que está ouvindo isto, se levanta e começa a falar:   
         Calma, não acredito que ouvi isto. Como assim isso é coisa de mulher?! Essas cinco palavras são as piores, não existe coisa de mulher nem coisa de homem, se você não sabe fazer um café, que aprenda, mas só pra lembrar, o café é na cafeteira, é só colocar um copo e apertar um botão, então, apertar um botão é coisa de mulher?
         Ela não se aguentou, falou o que tinha para falar.
        
         Em algum lugar do mundo, está acontecendo uma partida de futebol. Em algum lugar do estádio, há uma mulher gritando, pulando, balançando o cartaz, enfim torcendo. Há também dois homens (ao lado desta mulher), porém, eles não estão torcendo, mas sim discutindo, discutindo se o lance anterior teria sido uma falta ou não.
         Depois de um tempo, os homens param de discutir e sentam. A mulher continua torcendo. O grito da mulher incomoda os homens que estão ao seu lado. Um deles se levanta e grita:
         “Cala a boca! Você, mulher, não sabe nada de futebol, mas consegue fingir, gritando, então senta ai e para!”
         “Eu estou gritando, as pessoas ao seu redor estão gritando, o estádio está gritando, sabendo ou não de todas as regras. Pouco me importa se foi ou não uma falta, o importante é ver meu time ganhar, torcer. E se você pensa que sua fala vai me deixar reprimida, saiba que não, eu continuarei gritando, pulando, torcendo!”.
         (Enquanto falava, um homem escutou a conversa entre eles e disse):
         “ Eu sou homem, não sei de todas as regras nem sei jogar futebol, mas estou aqui, fazendo o que sei fazer, gritar, pular, torcer. Então vê se para de ser machista e torça pelo seu time, ou então, se você quiser, volte a discutir com seu amigo.”
         (As falam das duas pessoas deixaram o homem quieto, que acabou indo embora do estádio).
         “A vida de mulher é tão mais difícil”. Não, não é difícil, mas parece ser, por causa de serem oprimidas e obrigadas a fazerem tudo o que os homens querem. A vida das mulheres é cheia de medo, de estupro, assalto, sequestro. A maioria dos homens não sentem este medo, ou então não demonstram este medo.